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SINCRETISMO

 

            A essa “mistura” de identidades culturais, chama-se Sincretismo, o qual é o responsável, até hoje, pela presença de imagens de santos católicos em altares umbandistas. Reconhece-se, mesmo com esse conhecimento, a dificuldade de muitos praticantes da Umbanda em dissociarem a figura de seu Orixá da do santo católico. É difícil fazer crer que Santa Bárbara nunca foi Iansã e São Jorge nunca foi Ogum a pessoas que desde pequenas, culturalmente, têm sido bombardeadas com informações como essas dentro dos próprios terreiros que freqüentam. 

 

          Entretanto, se o sincretismo não ajuda, também não atrapalha tanto. Se o médium se sente mais seguro acreditando que está recebendo “São Jerônimo”, e isso o faz procurar ser melhor e favorece a sua ligação mental com o Orixá, não há problema continuar assim, embora não sendo esta uma situação verdadeira. O Orixá não tem forma e pouco importa se o chamamos de João, José, ou se o consideramos branco, negro ou índio. O que importa é o trabalho desenvolvido através daquele médium, o controle de suas energias e o auxílio a outras pessoas.

 

              Na CENTELHA não são adotadas imagens de santos católicos como representação de Orixás, por não compactuarmos com a propagação desse subterfúgio utilizado em tempos de escravidão. Mantemos, no entanto, apenas a figura de Jesus como representação de Oxalá. A CENTELHA entende que as mensagens crísticas devem ser observadas e seguidas por todos, vez que estimulam o amor, a fraternidade e a compaixão e, por isso, independente de terem sido transmitidas através de Jesus, de Buda, de Krishna, de Lao Tsé ou de qualquer outro, devem ser tomadas como regras de conduta para as pessoas interessadas em seu adiantamento moral e espiritual.
 

             Se a Umbanda tivesse sido originada no Japão, provavelmente o sincretismo de Oxalá encontraria reflexos na figura de Buda. Se tivesse surgido na Índia, em Krishna e assim por diante. Em todos os casos, Oxalá teria uma representação compatível com os conceitos de moral, bondade e luz que se atribui a este Orixá. Todos os grandes Avatares que a humanidade conheceu trouxeram basicamente os mesmos ensinamentos morais e filosóficos, diferenciando-se apenas quanto às expressões utilizadas para facilitar a compreensão de seu povo. Não importa se Oxalá é sincretizado com Jesus, Buda ou outro grande mestre, porque, na verdade, Oxalá não é nenhum deles - é apenas a força, imanente de Deus, geradora de tudo o que existe - mas sua vontade e sua lei de amor e caridade são manifestas em todos os que as ensinam e praticam.

 

            Vejamos a seguir a relação dos Orixás e dos santos católicos normalmente a eles associados:

 

Oxalá              - Jesus Cristo;

 

Simiromba      - São Francisco de Assis;

 

Iemanjá           - Nossa Senhora dos Navegantes, da Glória, das Graças, etc;

 

Oxum              - Nossa Senhora da Conceição, das Dores, etc;

 

Oxumarê         - São Bartolomeu;

 

Iansã               - Santa Bárbara, Santa Rita de Cássia, Santa Clara, etc;

 

Nanã Buruquê - Santana;

 

Ogum              - São Jorge, Santo Antônio;

 

Oxóssi             - São Sebastião;

 

Omolu             - São Lázaro;

 

Obaluaiê         - São Roque, Santo Onofre;

 

Crianças          - São Cosme e São Damião;

 

Xangô             - São Jerônimo, São Pedro, São José, São João, São Judas Tadeu, etc;

 

Obá                 - Santa Joana D’Arc;

 

Ewá                 - Santa Luzia.
 

          Alguns Orixás não possuem - de regra geral - correspondência a santos da Igreja, como Iroco, Baiâni, Okô e Logunedé (este, algumas vezes, aparece sincretizado com São Miguel Arcanjo, mas não é regra).

            Quando os negros, ainda nos tempos obscuros da escravidão, começaram a cultuar os seus Orixás, passaram a sofrer pressões dos senhores dos engenhos e da própria Igreja Católica no sentido de que abdicassem da sua fé em prol da crença nos santos católicos. Para escaparem dos castigos a eles impostos pela sua conduta espiritual, tiveram que desenvolver um artifício que fosse capaz de ludibriar os seus inquisidores.

 

          Para cada Orixá cultuado passaram a associar um santo da Igreja. Normalmente a associação não acontecia ao acaso. A um Orixá masculino guerreiro, associavam um santo com características semelhantes. A um Orixá feminino e idoso, por exemplo, um santo católico nas mesmas condições, e assim por diante. Construíam os seus altares com imagens dos santos em lugar bem visível e, muitas vezes, enterrados abaixo dos mesmos, mantinham os fundamentos e as firmezas de seus Orixás. Quem os visse em meio a sua prática religiosa acharia que estavam dançando e cantando em louvor aos santos católicos, quando, na verdade estavam desenvolvendo os seus ritos em comunhão com os Orixás de África.

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